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3- Guerra do Contestado-Conflito alcançou enormes proporções
A Guerra do Contestado foi um conflito que alcançou enormes proporções na história do Brasil e, particularmente, dos Estados do Paraná e de Santa Catarina. Semelhante a outros graves momentos de crise, interesses político-econômicos e messianismo se misturaram ao contexto explosivo. Ocorrido entre 1912 e 1916, o conflito envolveu, de um lado, a população cabocla daqueles Estados, e, de outro, os dois governos estaduais, apoiados pelo presidente da República, Hermes da Fonseca.
A região do conflito, localizada entre os dois
Estados, era disputada pelos governos paranaense e catarinense. Afinal, era uma
área rica em erva-mate e, sobretudo, madeira. Originalmente, os moradores da
região eram posseiros caboclos e pequenos fazendeiros que viviam da
comercialização daqueles produtos.
A construção da estrada de ferro
No final do século 19, o governo brasileiro
autorizou a construção de uma estrada de ferro ligando os Estados de São Paulo
e Rio Grande do Sul. Para isso, desapropriou uma faixa de terra, de
aproximadamente 30 km de largura, que atravessava os Estados do Paraná e de
Santa Catarina - uma espécie de "corredor" por onde passaria a linha
férrea.
A responsável pela construção foi a empresanorte-americana Brazil Railway Company, de propriedade do empresário PercivalFarquhar, que também era dono da Southern Brazil Lumber and ColonizationCompany, uma empresa de extração madeireira. A construção da estrada acabou
atraindo muitos trabalhadores para a região onde ocorreria a Guerra do Contestado.
Com o fim das obras, o grande número de migrantes que se deslocou para o local
ficou sem emprego e, conseqüentemente, numa situação econômica bastante
precária.
Ao mesmo tempo, os posseiros que viviam na região
entre o Paraná e Santa Catarina foram expulsos de suas terras. Isso porque,
embora estivessem ali já há bastante tempo, o governo brasileiro, no contrato
firmado com a Brazil Railway, declarou a área como devoluta, ou seja, como se
ninguém ocupasse aquelas terras.
Além de construir a estrada de ferro, Farquhar,
por meio da Southern Brazil Lumber, passou a exportar para os Estados Unidos a
madeira extraída ao longo da faixa de terra concedida pelo governo brasileiro.
Com isso, os pequenos fazendeiros que trabalhavam na extração da madeira foram
arruinados pelo domínio da Lumber sobre as florestas da região.
Messianismo
A construção da estrada de ferro ligando São
Paulo ao Rio Grande do Sul trouxe consigo os principais elementos
político-econômicos que levaram à eclosão da Guerra do Contestado. Afinal, a
presença das empresas de Farquhar na região e os termos do acordo firmado com o
governo brasileiro levaram, de uma só vez, à expulsão dos posseiros que
trabalhavam no local, à falência de vários pequenos fazendeiros que viviam da
extração da madeira e à formação de um contingente de mão-de-obra disponível e
desempregada ao fim da construção.
Entretanto, havia também um outro elemento
importante para o início do conflito: o messianismo. A região era freqüentada
por monges que faziam trabalhos sociais e espirituais e, vez ou outra,
envolviam-se também com questões políticas - o que lhes dava certo destaque
entre os moradores daquela localidade.
Em 1912, apareceu na região um monge chamado José
Maria de Santo Agostinho, nome que mais tarde a polícia descobriria ser falso.
José Maria foi saudado pelos habitantes do local como a ressurreição de outro
monge que vivera ali até 1908, o monge João Maria: era como se o antigo líder
espiritual tivesse voltado.
José Maria rapidamente ganhou fama na região por
seu suposto dom de cura. Em meio aos problemas político-econômicos provocados
pelas atividades das empresas de Percival Farquhar, o monge passou a
envolver-se também com questões que estavam muito além dos problemas
espirituais dos seus seguidores.
A guerra
Sob a liderança de José Maria, os camponeses
expulsos de suas terras e os antigos trabalhadores da Brazil Railway
organizaram uma comunidade no intuito de solucionar os problemas ocasionados
pela tomada das terras e pelo desemprego. Uniram-se ao grupo os fazendeiros
prejudicados pela presença da Lumber na região. Tudo isso reforçado pelo
discurso messiânico do monge José Maria, que logo declarou a comunidade sob sua
liderança como um governo independente.
A mobilização na região passou a incomodar o governo
federal não apenas por crescer rapidamente, com a formação de novas
comunidades, mas também porque os rebeldes passaram a associar os problemas
econômicos e sociais à República. Ao mesmo tempo, os coronéis locais ficaram
incomodados com o surgimento de lideranças paralelas, como José Maria. Já a
Igreja, diante do messianismo que envolvia o movimento, também defendeu a
intervenção na região.
De forma autoritária e repressiva, os governos do
Paraná e de Santa Catarina, articulados com o presidente Hermes da Fonseca,
começaram a combater os rebeldes. Embora tenham tido pouco sucesso nos dois
primeiros anos do conflito, as forças oficiais obtiveram, a partir de 1914,
sucessivas vitórias sobre os revoltosos - graças à truculência das tropas e ao
seu numeroso efetivo, que contava com homens do Exército brasileiro e das
polícias dos dois estados.
Com quase 46 meses de conflito, a Guerra do
Contestado superou até mesmo Canudos em duração e número de mortes. Famintos e
com cada vez mais baixas, diante do conflito prolongado, da força e crueldade
das tropas oficiais e da epidemia de tifo, os revoltos caminharam para a
derrota final, consumada em agosto de 1916 com a prisão de Deodato Manuel
Ramos, último líder do Contestado.
Um comentário:
Pesquisando sobre o contestado, onde meu avô trabalhou como armador em costruções ferroviarias naquela época de guerra, enontrei este espaço muito interessante e que confirma histórias contadas por ele quando eu era menino a 60 anos atraz, aliás com muito medo, pois ainda se consideravam os revoltosos como bandidos, ( Como sempre a história é contada na versão dos vitoriosos) mas embora tardiamente a verdade devagar vai aparecendo, como também lentamente os crimes de lesa pátria do golpe de 1964 vão aparecendo. O que é de se lamentar é que os verdadeiros culpados d tudo isto nunca serão punidos, o consolo pelo menos é saber que suas memórias serão lembradas no lixo da história, como o são dos grandes malfeitores da humanidade.
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