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Contestado: uma revolta nos “trilhos” das desigualdades que marcaram a
República Velha.
Ao longo de sua História a região do Contestado foi alvo de sucessivos episódios de disputa política e econômica. Localizada entre os estados do Paraná e Santa Catarina, a região foi marcada por essas disputas em razão da presença de uma rica floresta e uma grande região dedicada à plantação de erva-mate. Uma das mais imediatas manifestações desse problema se dava na pressão exercida pelos grandes proprietários de terra que forçavam agregados e posseiros a se estabelecerem em outras terras.
Além disso, a construção de uma estrada de ferro
interligando os estados de São Paulo e Rio Grande do Sul agravou o problema
social ali instalado. Sob a liderança do empresário estadunidense Percival
Farquhar, a Brazil Railway Company comprou uma extensa área para construção
desta estrada, onde diversas famílias já estavam instaladas. Após viabilizar o
processo de desocupação das terras, a companhia atraiu a mão-de-obra de mais de
8 mil operários que participaram da gigantesca obra.
Depois de realizar a construção, a Brazil Railway
adquiriu uma outra área com mais de 180 mil hectares onde realizaria exploração
madeireira. Utilizando um moderno maquinário para a execução desse novo
empreendimento, a empresa estrangeira precisou de um contingente mínimo de
mão-de-obra, o que acabou forçando a expulsão de outra leva de pequenos
agricultores que também estavam fixados naquela região.
Com a formação dessa massa de operários
desempregados e camponeses desapropriados, a região do Contestado começou a presenciar
um movimento messiânico. Diversos profetas, beatos e “monges” apareceram
pregando ideais de justiça, paz e comunhão que seriam estabelecidos em um
movimento de inspiração religiosa. O primeiro desses líderes foi o beato José
Maria, que atacava o autoritarismo da ordem republicana e pregava novos tempos
de prosperidade e comunhão espiritual.
Inspirado pela lenda messiânica do antigo rei
português Dom Sebastião, José Maria agrupou diversos seguidores para a fundação
da comunidade de Quadrado Santo, que viveu da agricultura subsistente e do
furto de gado. Preocupados com a formação de comunidades desse mesmo tipo, os
governos estadual e federal passaram a enviar expedições militares contra a
população de Quadrado Santo. Ao saberem da ação do governo, os sertanejos
fugiram para a cidade de Faxinal do Irani, no Paraná.
Após essa fuga, ainda no ano de 1912, um novo
destacamento militar foi mandado para entrar em conforto com os seguidores de
José Maria. Durante os conflitos, as tropas federais foram derrotadas,
entretanto o líder espiritual acabou morrendo. Após esse primeiro confronto, os
rebeldes começaram a reorganizar a comunidade de Quadrado Santo. No final do
ano seguinte, uma nova luta foi travada com os militares e, mais uma vez, a
comunidade do Contestado subjugou as autoridades republicanas.
Em 1914, o governo mais uma vez foi neutralizado
com a fuga em massa dos moradores do contestado. No ano seguinte, outros
confrontos seriam marcados com sucessivas derrotas do Exército. O já prolongado
conflito só veio a ter um fim quando as tropas do governo foram mantidas por
mais de um ano em confrontos regulares contra a comunidade revoltosa. Para
tanto, utilizaram de aviões e uma pesada artilharia. No fim da luta, em 1916,
milhares de sertanejos foram brutalmente executados.
Por Rainer Sousa
Graduado em História
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